Paulo de Jesus – A Vida Nos Olivais

 

Paulo de Jesus – A Vida Nos Olivais

Paulo de Jesus, um alentejano de 77 anos, é daqueles homens que carrega a história no olhar e a sabedoria no coração. Desde menino, sempre soube que a vida no campo não era fácil. Nascido em Moura, cresceu entre os irmãos e aprendendo desde cedo que na família, quem chega primeiro ensina quem vem depois. Os tempos eram duros, mas a união era forte.

O Brilho Da Juventude e O Encanto de Maria do Carmo

Paulo ainda se lembra daquele dia como se fosse ontem. O sol do Alentejo dourava os campos e, entre os olivais, surgiu Maria do Carmo, com seus olhos que refletiam o azul do céu e um sorriso que desarma qualquer preocupação.

Foi amor à primeira vista? Talvez. Mas Paulo gosta de dizer que foi amor à primeira conversa. Maria tinha uma voz suave, uma risada que preenchia o silêncio do campo e uma beleza que não se media apenas pelo rosto delicado, mas pela força e bondade que carregava no olhar.

A paixão logo virou parceria, e juntos, construíram um lar, uma família e uma terra fértil que, com muito trabalho, se transformou em um legado. A propriedade cresceu, os olivais se multiplicaram e, ano após ano, o azeite tornou-se símbolo da vida que criaram juntos. 🫒

Hoje, Paulo olha para tudo isso com orgulho. Mas se alguém perguntar qual foi a sua maior conquista, ele não hesita: "Foi encontrar a minha Maria, porque sem ela, nada disso teria sentido."

O Ouro Verde e a Jornada de Paulo de Jesus

Se há algo que define a vida de Paulo de Jesus, é a ligação profunda com a terra e com as suas oliveiras. Desde jovem, ele aprendeu que o campo tem sua própria linguagem – o vento que balança as copas, o cheiro da terra molhada e a paciência de quem planta sem saber ao certo o que colherá. E foi nessa paciência que ele construiu quase 60 anos de dedicação ao azeite, o verdadeiro ouro verde do Alentejo.

Cuidar das oliveiras sempre foi mais do que um trabalho, foi uma arte. Paulo sabia exatamente quando podar os ramos para fortalecer a árvore, quando era a hora certa da colheita – nem cedo demais para evitar um sabor adstringente, nem tarde demais para garantir que os frutos mantivessem toda sua essência. Cada azeitona era um pequeno tesouro, colhido com respeito e levada ao lagar, onde a magia acontecia.

Ali, no lagar, a tradição se misturava com a técnica. Primeira prensagem a frio, ele repetia, porque é nela que nasce o azeite mais puro, sem perder sabor nem propriedades. O líquido dourado escorria das prensas, carregando o aroma da terra e da história daqueles que dedicaram a vida à sua produção. E Paulo sempre teve orgulho de dizer que o seu azeite não era apenas alimento, era memória, trabalho e paixão engarrafados.

Com o tempo, os métodos evoluíram, surgiram máquinas mais modernas, mas ele nunca deixou que a essência se perdesse. Olhando para os olivais que hoje são cuidados por uma empresa, ele sorri e pensa: "Ainda posso sentir o cheiro da terra e das oliveiras no vento. E isso me basta."

Agora, na serenidade dos seus dias, apreciados finais de tarde. Nada o deixa mais feliz do que preparar a merenda ao lado de Maria do Carmo: pão fresco, azeite dourado e um copo de vinho, mesmo que não possa bebê-lo. Afinal, o vinho é como as boas lembranças — mesmo que não se possa saboreá-las, é bonito vê-las ali na mesa.

A vida de Paulo não foi feita de luxo ou facilidades, mas sim de terra, suor e amor. E se alguém perguntar se ele mudaria algo, ele apenas dá um sorriso e diz: "Mudaria nada! O que tenho é bom. E o que foi, já foi. A vida é bela."

Recolha e adaptação: Albino Monteiro