A Lenda das Estradas Algarvias

 

A Lenda das Estradas Algarvias 

António Martins, um simpático senhor de 74 anos, é um nome muito conhecido nas estradas algarvias. Ele nasceu em Cabanas de Tavira, onde passou a infância brincando nas ruas de terra e pescando no rio. Essas memórias o acompanham até hoje. Agora, António vive em Alcoutim, junto com uma amiga. Eles se tornaram parceiros de aventuras, compartilhando bons momentos juntos.

Memórias como Taxista

Durante muitos anos, António trabalhou como taxista. Ele adora relembrar essa fase da sua vida com bom humor. Uma das histórias favoritas dele é sobre um grupo de turistas que decidiu cantar fados dentro do táxi. Embora as vozes fossem desafinadas, isso não tirou a alegria do momento. António, sempre bem-humorado, desafiou os turistas a um concurso de karaoke. Resultado: uma viagem cheia de risos e aplausos que ele nunca esquecerá. Esses momentos mostram como o trabalho dele era mais do que apenas transportar pessoas; era sobre criar experiências memoráveis.

Uma Viagem Animal

Em outra ocasião, António teve que levar uma senhora que estava acompanhada de 3 gatos, a uma consulta veterinária. A gaiola de transporte dos gatos, abriu-se durante a viagem, e o táxi virou um verdadeiro zoológico, com gatos miando e pulando por todo o lado. Enquanto a senhora pedia para parar em cada esquina, ele lutava para manter a compostura, rindo da situação. Era um desafio, mas também uma experiência divertida que ele guarda no coração. Essas histórias provam que cada dia no trabalho era único e cheio de surpresas.

O Táxi Encantado 

Certa vez, António foi chamado para buscar um grupo de crianças fantasiadas para uma peça de teatro. Havia um pirata, uma princesa, um dragão e até um astronauta. A confusão começou quando o pirata insistiu em dar "ordens ao motorista", enquanto o dragão soprava no vidro como se quisesse "derreter" o táxi. António ria tanto que teve que parar o carro para recuperar o fôlego. No fim, ele brincou que nunca tinha transportado um elenco tão animado e "perigoso" ao mesmo tempo!

Corrida Inesperada

Uma madrugada, António atendeu um pedido urgente de corrida. Quando chegou, foi surpreendido por um homem vestido de super-herói, com uma capa esvoaçante e dizendo: "Para o centro da cidade! A justiça não pode esperar!" António, embora segurando o riso, aceitou a missão e seguiu viagem com o cliente peculiar.

Durante o trajeto, o "herói" recitava frases épicas como: "O mundo precisa de mim mais do que nunca!" e ainda sugeriu planos mirabolantes para salvar a humanidade, enquanto a capa voava dramaticamente ao vento. Quando António finalmente alcançou o destino, viu que o local era nada menos que um baile à fantasia.

Na entrada, havia piratas, princesas e até um astronauta aguardando para entrar. Ao sair do táxi, o super-herói ajustou a máscara e declarou: "Com este transporte seguro, estou pronto para combater o mal... ou dançar muito!"

António, já não contendo o riso, recebeu uma gorjeta generosa e ouviu o cliente dizer: "Obrigado, parceiro! Sem você, não conseguiria chegar ao meu covil secreto de justiça... também conhecido como salão de festas!"

Foi uma corrida inesquecível e mais uma das aventuras inusitadas que só o táxi de António poderia proporcionar!

A Noite dos Balões 

António ainda se diverte ao lembrar de quando foi contratado para transportar 50 balões de festa. A cliente pediu que ele deixasse as janelas fechadas para os balões não escaparem, mas em poucos minutos o táxi parecia uma "nuvem flutuante". Ele mal conseguia enxergar o caminho e brincava: "Quem está dirigindo, eu ou os balões?" Quando entregou tudo intacto no destino, foi aplaudido como um verdadeiro heroi da festa!

Esses momentos caricatos mostram como António transformava os desafios do dia a dia em histórias inesquecíveis e sempre com muito bom humor!

Tardes Junto ao Rio: Histórias, Memórias e Aventura no Guadiana

Agora aposentado, António Martins transformou suas tardes à beira do Rio Guadiana em um verdadeiro ritual de bem-estar. Na sombra acolhedora das árvores que margeiam o rio, ele encontra um refúgio perfeito para contemplar a paisagem e relembrar os tempos passados. Sempre com sua amiga inseparável ao lado, ele saboreia pequenos lanches preparados com carinho, enquanto uma conversa animada preenche o ar.

Entre risadas e reflexões sobre a vida, António e sua amiga gostam de trocar memórias. Muitas vezes, eles se recordam da infância, quando as travessuras eram o passatempo favorito. António conta, com o brilho da nostalgia nos olhos, sobre as manhãs que passava pescando no rio, ou as brincadeiras simples nas ruas de terra. "Éramos reis do nosso pequeno mundo," diz ele, entre risos.

Mas as tardes no Guadiana não são apenas momentos de lembrança. Elas também são oportunidades para António mostrar seu lado contador de histórias. E uma que ele adora narrar é sobre os contrabandistas do Guadiana.

A História dos Contrabandistas do Guadiana

"Sabias que este rio, tão tranquilo agora, já foi palco de grandes aventuras?" António começa, apontando para as águas límpidas do Guadiana. Ele então mergulha na história dos contrabandistas, figuras que desafiavam os limites entre Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana.

Durante os difíceis tempos de escassez no século passado, principalmente nas décadas de 1930 e 1940, o contrabando era uma atividade clandestina, mas essencial para as populações ribeirinhas. O rio se tornava um corredor de risco e ousadia, com contrabandistas, atravessando a nado mercadorias como café, açúcar, tabaco e tecidos de um lado para o outro.

António conta com entusiasmo sobre como os contrabandistas precisavam agir à noite, muitas vezes com a lua como única guia, para escapar das patrulhas das autoridades. "Eles diziam que o Guadiana era tanto uma barreira quanto uma ponte," explica António. "Uma ponte para quem tinha coragem de enfrentar seus desafios."

Ele gosta de adicionar um toque de humor: "Dizem que um contrabandista foi pego porque o burro que ele usava para carregar os sacos resolveu zurrar na hora errada! Imagina só, o burro entregando o plano todo!"

Memórias à Beira do Rio 

Para António, os relatos do contrabando são mais do que histórias; são parte da identidade das terras ribeirinhas do Algarve. E hoje, essas memórias ganham vida novamente com festivais como o Festival do Contrabando, que acontece entre Alcoutim e Sanlúcar. Ele sempre incentiva todos que o escutam a visitar o evento, descrevendo a história comum que liga os dois países como "um passo simbólico entre o passado e o presente".

Além de contar essas histórias de tempos passados, António aproveita a tranquilidade do rio para sonhar com novas aventuras. Muitas vezes, entre uma garfada em seu bolo favorito e um gole de chá, ele e sua amiga discutem ideias para pequenas viagens ou até projetos criativos, como a confecção de quadros com as fotografias que ele tira do Guadiana.

Com o sol brilhando suavemente e a brisa fresca trazendo o perfume das flores silvestres, as tardes à beira do Guadiana tornam-se momentos de pura paz. As andorinhas, com seus voos graciosos e cheios de vida, protagonizam um verdadeiro espetáculo natural sobre o rio ao entardecer. Elas sobrevoam as águas num balé sincronizado, como se desenhassem no céu figuras invisíveis, enchendo o ambiente de alegria e movimento. "Este rio sempre teve alma," António diz, com um olhar contemplativo. "Antes, era a alma dos contrabandistas. Hoje, é a alma da tranquilidade e das andorinhas que o embelezam."

E assim, entre o passado rico em histórias e o presente carregado de serenidade, António Martins continua a transformar cada tarde em uma memória querida.

A Paixão pela Fotografia de António Martins

A fotografia sempre ocupou um espaço especial no coração de António Martins. Desde jovem, ele se encantou com a ideia de capturar momentos, eternizando paisagens, rostos e detalhes que, de outra forma, se perderam no tempo. Naquela época, António tinha uma câmera analógica simples, daquelas que exigiam rolos de filme. Cada fotografia era uma pequena preciosidade, pois as limitações do equipamento e o custo do filme o obrigavam a ser seletivo em cada clique.

“Eu só apertava o botão quando realmente valia a pena", recorda-se António com um sorriso no rosto. Ele caminhava pelas ruas de Cabanas de Tavira, observando atentamente as cenas ao seu redor: uma criança brincando à beira do rio, o reflexo das nuvens na água calma ou até mesmo as senhoras estendendo roupas nos varais ao vento. Para António, cada imagem tinha que contar uma história.

Com o passar dos anos e a evolução da tecnologia, o velho hábito de fotografar continuou vivo, mas com um toque moderno. Agora, aos 74 anos, António é o orgulhoso dono de um smartphone com uma câmera de última geração que ele usa com entusiasmo. “É incrível como posso tirar tantas fotos sem me preocupar em revelar depois,” diz ele, maravilhado com as possibilidades infinitas.

António aproveita as paisagens deslumbrantes do Algarve como seu principal cenário. Adora acordar cedo para capturar o nascer do sol dourado sobre o Rio Guadiana ou as amendoeiras em flor que colorem a região com seu branco delicado. Mas o que realmente o emociona são os momentos espontâneos: o sorriso de uma criança na praça, as gaivotas sobrevoando a marina ou a expressão distraída da sua amiga enquanto saboreia um café.

A fotografia não é apenas um hobby para António; é também uma forma de partilhar a sua perspectiva do mundo. Sempre que recebe visitas ou fala com a filha Maria, que vive na França, ele faz questão de mostrar seu “álbum digital” repleto de cenas da sua rotina e das belezas do Algarve. “É como se eu estivesse levando um pedacinho da minha terra para quem está longe,” explica ele com um brilho nos olhos.

Hoje, António também encontrou novos usos para sua paixão. Muitas das fotos que tira são transformadas em pequenos presentes criativos. Ele imprime algumas delas e usa para decorar cadernos, cartões postais e até quadros que oferece a amigos e familiares. Assim, sua paixão pela fotografia não só enriquece sua vida, mas também traz um toque especial de alegria àqueles que o cercam.

Para António, cada clique não é apenas uma foto, mas sim um registro de gratidão pela vida e pela beleza que o cerca. Afinal, como ele gosta de dizer: “Uma boa fotografia não precisa de mais nada além de alma e olhos atentos.”

O Algarve, visto pelas lentes de António, nunca pareceu tão vivo!

Celebrando a Vida aos 74 Anos

A história de António Martins é um exemplo brilhante de como a vida pode ser cheia de risos, mesmo aos 74 anos. Ele nos mostra que, independentemente da idade, sempre há espaço para novas aventuras. Desde momentos hilários no táxi até tardes tranquilas à beira do rio, a vida continua a ser uma viagem repleta de experiências. Cada risada e recordação contribui para a rica tapeçaria de sua vida, lembrando a todos que ainda há muito a viver e desfrutar.

Recolha e adaptação: Albino Monteiro