Dona Gracinda e o Mistério da Receita Secreta

 


Dona Gracinda e o Mistério da Receita Secreta


Em Vila Real, numa ruazinha inclinada com roupa estendida nas janelas e cheiro de arroz de forno no ar, morava Dona Gracinda — 72 anos, viúva, cabelo roxo (porque se enganou na tinta e decidiu manter), a língua mais afiada que faca de cortar presunto.


Ela era famosa por duas coisas: ganhar todos os concursos de doçaria da região e ser a maior fofoqueira da freguesia. Mas havia um mistério: ninguém sabia o ingrediente secreto do seu famoso "Bolo de Segredo". Nem a filha. Nem a melhor amiga. Nem o padre (que tentava descobrir em confissão!).


Um dia, a Câmara Municipal anuncia um novo concurso: “O Melhor Doce Tradicional do Norte”. Prémio? Uma viagem ao Brasil com tudo pago e uma entrevista na televisão. Gracinda inscreve-se de imediato. Mas no dia anterior ao concurso... a receita desaparece!


— “Ai Jesus, que isto foi obra daquela bisbilhoteira da Palmira, que anda a cheirar à minha cozinha desde o São João!” — gritou ela, já de rolos no cabelo, em plena rua.


Convoca então o seu “clube secreto de senhoras” (na verdade, o grupo de tricô da igreja) e, com óculos escuros e gabardines, iniciam uma investigação digna de filme do James Bond... versão "feira do lavrador".


Entram disfarçadas no minimercado do Zé Padeiro, espiam pelos cortinados da Palmira, seguem rastros de farinha até à loja da Clarinha, que tem um forno suspeitamente novo. No fim, descobrem que a receita estava... dentro do micro-ondas da própria Gracinda. Ela tinha guardado lá "para não se esquecer onde pôs". Esqueceu.


No dia do concurso, faz o bolo às pressas, quase troca o açúcar pelo sal, mas no fim... ganha o primeiro lugar. Quando perguntam o segredo na televisão, ela pisca para a câmara e diz:


— “O segredo... é não ser parva e esconder a receita no sítio certo!”


A vila inteira explode a rir, e Dona Gracinda torna-se viral. E dizem que, até hoje, há quem tente adivinhar o ingrediente mágico. Mas o único segredo mesmo... é que ela nunca usou medida nenhuma. Era tudo "a olho".


Recolha e adaptação: Gabriel Silva