A Doce Sinfonia da Vida de Julieta

 

A Doce Sinfonia da Vida de Julieta

O sol beijava suavemente as ruas de Tavira, e na sua casinha florida, Julieta, com seus 85 anos e mãos que contavam histórias em cada ponto de costura, sentia o coração aquecer. Hoje era um daqueles dias especiais.
Mal o sino da igreja ecoou as badaladas do meio-dia, a campainha tocou. Eram elas: Aurora, Margarida e Sofia, suas amigas do coração de décadas. Traziam consigo o aroma familiar da geleia de morango caseira, tabletes de chocolate que Julieta tanto apreciava e um sumo fresquinho de laranja. Era o ritual sagrado do chá da tarde, um oásis de alegria e partilha.
Na mesa da sala, rodeadas por bordados delicados feitos pelas mãos de Julieta, as conversas fluíam como um rio sereno. Falavam da missa da manhã, das orações que uniam seus espíritos, recordavam amigos que já partiram com um sorriso nostálgico e atualizavam as novidades dos seus familiares. Eram instantes preciosos, onde a cumplicidade tecia laços ainda mais fortes.
O mais bonito de tudo, Julieta sabia, era a presença constante delas. Nos dias de sol radiante e nas manhãs nubladas, quando a saudade apertava ou a energia faltava, suas amigas eram faróis de luz. Chegavam sem avisar, com um abraço apertado e palavras de conforto, mostrando que a verdadeira amizade resiste a todas as estações da vida.
Mais tarde, a tarde trouxe outra visita especial: a sobrinha, Carolina, e o seu pequeno rebento, o energético Miguel. Os olhos de Julieta brilhavam ao ver o bisneto correr pela sala, enchendo a casa de risos e vida nova. Miguel, curioso como toda criança, admirava os novelos de linha coloridos e as caixas de botões de Julieta, enquanto Carolina contava as últimas novidades da família.
No final do dia, enquanto o sol se punha em tons de laranja e rosa sobre o casario branco de Tavira, Julieta sentia o coração transbordar de gratidão. A vida, com suas idas e vindas, tinha-lhe presenteado com tesouros inestimáveis: a lealdade das amigas e o amor da família. E ela, com a sabedoria dos seus 85 anos, sabia que eram esses laços que davam cor e melodia à sua doce sinfonia da vida.

Recolha e adaptação: Albino Monteiro

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