O professor João Luís e a magia das fábulas
O professor João Luís e a magia das fábulas
João Luís, um professor aposentado, viúvo e morador solitário de uma casa acolhedora no interior, é muito mais do que um idoso. Aos 75 anos, ele é uma verdadeira fonte de sabedoria e histórias que encantam desde crianças a adultos que o visitam em busca de momentos especiais.
Certo dia, durante um chá improvisado em sua varanda, João Luís decidiu compartilhar uma de suas fábulas preferidas de Monteiro Lobato: “A assembleia dos ratos”. Ele ajeitou os óculos, acendeu um pequeno lampião para criar o clima e começou, com sua voz pausada e cativante:
“Então, vejam só. Tínhamos o Faro-Fino, um gato que causava tanto pavor que os pobres ratos estavam à beira da extinção na casa velha. A única solução seria amarrar um guizo no pescoço do gato. Simples, não? Mas quem faria essa missão impossível?”
Enquanto narrava, João Luís não se conteve e soltou uma gargalhada. “Ah, os ratos falam como humanos, não acham? Todos querem a ideia brilhante, mas ninguém quer se mexer para executá-la! Parece até reunião de condomínio. Quem vai cuidar da infiltração? Ninguém se oferece!”
Com as crianças e os adultos rindo ao redor, ele fez uma pausa dramática e acrescentou: “Mas sabem qual é a moral? Dizer é fácil, fazer é complicado. Querem algo? Trabalhem por isso. E também aprendam a escutar o sábio rato casmurro, que vê além das palavras bonitas.”
João Luís sempre conectava as histórias aos desafios da vida moderna. Ele olhou para os convidados e brincou: “E por falar nisso, quem vai lavar a louça hoje, hein? Porque eu, meus caros, já fiz a minha parte na cozinha. Fui o rato casmurro que preparou o chá e os biscoitos!” 🫖🍪
A verdade é que João Luís, com sua simplicidade e humor afiado, era um verdadeiro mestre em trazer os grandes ensinamentos das fábulas para o cotidiano. E assim, ele enchia os dias da pequena vila com alegria e reflexões. No fim daquela tarde, enquanto todos se despediam, ele piscou e disse: “A vida é como uma boa fábula, cheia de reviravoltas. Só não deixem o Faro-Fino pegar vocês!”
Recolha e adaptação: Albino Monteiro
Para contextualizar deixamos a Fábula de Monteiro Lobato
“A assembleia dos ratos
Um gato de nome Faro-Fino deu de fazer tal destroço na rataria de uma casa velha que os sobreviventes, sem ânimo de sair das tocas, estavam a ponto de morrer de fome.
Tornando-se muito sério o caso, resolveram reunir-se em assembleia para o estudo da questão. Aguardaram para isso certa noite em que Faro-Fino andava aos mios pelo telhado, fazendo sonetos à Lua.
- Acho - disse um eles - que o meio de nos defendermos de Faro-Fino é lhe atarmos um guizo ao pescoço. Assim que ele se aproxime, o guizo o denuncia e pomo-nos ao fresco a tempo.
Palmas e bravos saudaram a luminosa ideia. O projeto foi aprovado com delírio. Só votou contra um rato casmurro, que pediu a palavra e disse:
- Está tudo muito direito. Mas quem vai amarrar o guizo no pescoço de Faro-Fino?
Silêncio geral. Um desculpou-se por não saber dar nó. Outro, porque não era tolo. Todos, porque não tinham coragem. E a assembleia dissolveu-se no meio de geral consternação.
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Dizer é fácil, fazer é que são elas!
Monteiro Lobato”