A Doce Vida de Sancha Maria
A Doce Vida de Sancha Maria
Sancha Maria sempre foi uma mulher de coração leve e mãos ocupadas. Aos 75 anos, olha para trás e vê uma vida cheia de aromas, sabores e liberdade. Nascida e criada em Ponte da Barca, no Alto Minho, sempre teve um talento especial: transformar ingredientes simples em verdadeiras obras-primas açucaradas.
Memórias Doces da Infância
A infância de Sancha foi embalada pelo som do velho rádio da família. O clique da válvula anunciava o início de um novo dia e trazia-lhe músicas que viajavam além da sua pequena aldeia. Mas sua verdadeira conexão com o mundo vinha dos cheiros. O aroma do café recém-moído, o leite fresco vindo do curral e o pão de milho feito pelas mãos habilidosas da mãe eram tesouros guardados no seu coração. Cada manhã era um espetáculo sinestésico de sons e cheiros que anunciavam o amanhã.
A Vida Como Doceira e a Liberdade de Escolher
A sua jornada como doceira começou na pastelaria do cunhado, onde mergulhou no mundo mágico dos bolos, tortas e doces conventuais. O trabalho era duro, mas gratificante. Enquanto as suas mãos modelavam doces, sua mente voava livremente. Nunca casou, nunca teve filhos, mas isso deu-lhe uma liberdade inesperada: a de viajar!
Sempre que a rotina permitia, metia-se em excursões e desbravava o país, conhecendo cidades, provando sabores novos, colecionando histórias. Ora sentia falta de um lar mais cheio, ora sorria ao pensar que, caso tivesse filhos, talvez nunca tivesse tido essa oportunidade.
O Chá da Saudade
Mesmo aposentada, a pastelaria nunca deixou de ser o seu lugar especial. Agora gerida pelo sobrinho, Sancha Maria visita sempre que pode. O ritual é o mesmo: um chá quente, torradas crocantes e um pouco de nostalgia. Lá, observa o movimento, sente os aromas que sempre a acompanharam e sorri ao perceber que, mesmo sem perceber, construiu uma vida cheia de doçura.
Ela não deixou a vida passar. Ela viveu ao seu ritmo. Com açúcar, com liberdade e com histórias para contar.
Recolha e adaptação: Albino Monteiro