Manuel, o Soldado da Esperança

 


Manuel, o Soldado da Esperança


Manuel Ferreira nasceu em 1943, numa pequena vila de Trás-os-Montes, numa família humilde de agricultores. Desde pequeno aprendeu o valor do trabalho duro, da honra e da palavra dada. Aos 20 anos, foi chamado para cumprir o serviço militar obrigatório e, pouco depois, recebeu a notícia que mudaria a sua vida: seria enviado para a Guiné-Bissau.


Em 1964, embarcou num navio militar rumo à guerra. Ao chegar, encontrou um mundo completamente diferente — selvas densas, calor intenso, doenças tropicais e, acima de tudo, uma guerra feita de emboscadas, medo constante e perda de companheiros. Manuel não era um herói por natureza, mas a guerra forjou nele uma força interior que nunca imaginou possuir.


Durante uma emboscada em 1967, o seu pelotão foi cercado. Muitos caíram, mas Manuel, mesmo ferido, conseguiu resgatar dois camaradas e resistir até que o reforço chegasse. Por esse ato, recebeu uma condecoração, mas nunca falou disso com orgulho. Para ele, a bravura não era motivo de glória — era um dever de lealdade e amor ao próximo.


Quando regressou a Portugal em 1969, Manuel não voltou o mesmo. Tinha cicatrizes no corpo e na alma, mas também uma nova visão de mundo: percebeu que a guerra não se vence com armas, mas com justiça e compreensão.


Nos anos seguintes, tornou-se professor primário. Dedicou sua vida a ensinar as crianças da sua terra — não apenas a ler e escrever, mas a respeitar os outros, a dialogar, e a valorizar a paz. Nunca incentivou o ódio, nunca alimentou rancores. Em vez disso, usava sua história para lembrar que o mais importante não é lutar, mas construir.


Hoje, aos 82 anos, Manuel é lembrado na sua vila como “o mestre da esperança”. E embora seus feitos na guerra estejam registrados num velho caderno amarelado, seu verdadeiro legado é invisível — vive em cada aluno que aprendeu com ele que a paz começa no coração de cada um.


Recolha e adaptação: Gabriel Silva