Maria Celeste e o Sonho Azul
Maria Celeste e o Sonho Azul
Em Vinhais, entre montes e vales, vive Maria Celeste, uma senhora de 82 anos cheia de histórias e sorrisos. Viúva há 25 anos, viu os seus três filhos partirem para longe — Manuel na Suíça, Albertina em França e Sérgio, o mais velho, no Brasil. Mas nada disso a impediu de continuar a viver no lugar onde nasceu, numa casa que guarda consigo memórias de tempos simples e felizes.
Desde pequena, habituou-se a acordar cedo, às cinco da manhã, com a luz fraca do velho lampião petromax iluminando a cozinha. Na infância, ajudava o pai, costurava pequenos retalhos e, mais tarde, tornou-se mestra dos arranjos de costura e parceira dedicada do marido na criação de animais, especialmente porcos para os famosos enchidos da região.
Apesar da solidão que a aldeia às vezes impõe, Maria Celeste nunca quis sair dali. "Já sou parte destas montanhas!", costuma dizer com um sorriso no rosto. Afinal, foi ali que construiu toda a sua vida. Mas havia um sonho que sempre guardou no coração…
Ela queria conhecer o mar. Desde criança, escutava os primos de Viana do Castelo falarem sobre as ondas e o sol quente queimando a pele. "O mar leva a areia e traz de volta, como uma dança!", diziam eles. Maria Celeste tentava imaginar essa imensidão azul, mas no seu pequeno mundo, o Rio Tâmega era o mais próximo que conseguia alcançar.
Até que um dia, já com seus cabelos embranquecidos pela vida, os filhos decidiram realizar o seu desejo. Levaram-na até à costa portuguesa. E lá estava ele: o mar! Mais do que poderia imaginar, um infinito que preenchia todos os sentidos. "Faltavam-me olhos para olhar!" – repetia, emocionada. O vento, o cheiro salgado, as ondas que iam e vinham… Era magia pura!
Hoje, aos 82 anos, Maria Celeste ainda fala desse dia com brilho nos olhos. Apesar das dificuldades, das perdas e da distância dos filhos, ela vive com gratidão. E sempre termina suas conversas com uma certeza absoluta: "O mar era azul. E eu nunca fui tão feliz!"
Recolha e adaptação: Albino Monteiro