José Apolinário: O Feirante Alegre de Estoi

 

José Apolinário: O Feirante Alegre de Estoi

José Apolinário, um senhor cheio de carisma e energia, tem 76 anos e uma vida cheia de histórias cativantes para contar. Casado com Etelvina de Jesus, pai de Sérgio, Paulo e Gracinda, ele mora atualmente em Olhão, mas suas raízes estão firmemente plantadas na charmosa freguesia de Estoi , onde nasceu e passou a infância.

Memórias de Infância em Estoi 

Aos domingos de manhã, José gosta de lembrar sua infância em Estoi, há mais de 60 anos. Ele descreve a paróquia com ruas de terra e campos verdes que pareciam nunca acabar. "Os tempos eram difíceis," ele explica. "Meu pai e minha mãe viviam da agricultura, plantando batatas, cenouras e o que mais conseguissem. Nem sempre dava para tudo, mas a força e a união da família nos mantinham firmes."

Ele se lembra com carinho dos momentos simples, como correr descalço pelos campos ou ajudar os pais a colher frutas nas tardes ensolaradas. Apesar das dificuldades, Estoi era para José um lugar de sonhos e descobertas.

Entre esses momentos, uma das maiores fascinações de José era visitar as Ruínas Romanas de Milreu, um sítio arqueológico próximo que carregava um ar de mistério e encanto. Para uma criança curiosa como ele, aquelas colunas antigas, mosaicos e vestígios de tempos passados ​​eram como portais para outro mundo. "Eu achava que aqueles mosaicos coloridos, com desenhos de peixes e plantas, eram mensagens secretas deixadas pelos romanos," diz ele com um brilho nos olhos.

As ruínas, cercadas por oliveiras e com uma vista que parecia alcançar o infinito, se tornaram o palco das aventuras imaginárias de José. Ele e seus amigos fingem ser exploradores em busca de tesouros escondidos 🪙 ou soldados romanos protegendo o que chamavam de "o templo sagrado". "Uma vez, juramos ter visto o fantasma de um gladiador," ele conta rindo. "Mas era só uma sombra de um pássaro no entardecer!"

Para José, as Ruínas de Milreu não eram apenas pedras antigas, mas um lugar onde sua imaginação ganhava asas. "Eram as histórias que inventamos lá que faziam aquele lugar mágico," ele reflete. Ainda hoje, ao passar perto do sítio, ele sente o mesmo fascínio pela grandiosidade do passado e pelas memórias criadas em sua infância.

"Eu sempre digo que foi lá que aprendi o valor do trabalho e da amizade," acrescenta com um sorriso nostálgico, mas agora ele complementa: "E também onde descobri o poder da imaginação."

O Feirante e Suas Aventuras

Após voltar do serviço militar, José decidiu não seguir os passos dos pais na agricultura. Com muita determinação, ele tornou-se feirante e passou a percorrer as diversas localidades do Algarve, levando produtos e boas conversas a todos os lugares.

"Nos anos 60 e 70, não havia tanta facilidade como hoje. As feiras eram a alma do comércio local. Toda a população esperava ansiosamente pela feira semanal ou quinzenal," diz ele. José lembra com humor que havia de tudo nas feiras: desde senhoras negociando preços com habilidade até crianças correndo entre as barracas de tecidos e frutas.

Ele conta que a sua camioneta era quase como um personagem da sua vida. "Carregava tudo: batatas, panelas, tapetes... até galinhas!" Certa vez, uma galinha escapou e começou a cacarejar na praça, interrompendo uma negociação. "Eu corri atrás dela e caí numa poça d’água! A feira inteira riu, mas foi naquele dia que vendi todos os meus tapetes!"

José construiu grandes amizades ao longo das décadas como feirante e orgulha-se de ter contribuído para o comércio local. Hoje, ele observa com alegria o crescimento das lojas e mercados modernos, mas lembra que, antigamente, o ambiente da feira tinha uma magia especial.

Os Filhos e Novos Caminhos

Apesar de sua paixão pela vida de feirante, José é o primeiro a dizer que seus filhos escolheram caminhos diferentes, e isso o deixa feliz. Sérgio é engenheiro, Paulo trabalha com tecnologia e Gracinda é professora. "Eles têm profissões que nem passavam pela minha cabeça quando eu era jovem," ele diz com orgulho.

José acredita que a maior conquista da sua vida foi mostrar aos filhos o valor do trabalho e da honestidade, princípios que eles levaram consigo. "Cada um seguiu o seu próprio destino, mas carregam um pedaço de mim," diz ele, emocionado.

Ritmo de Vida Hoje

Hoje, José Apolinário gosta de passar as tardes tranquilas ao lado de Etelvina, tomando café e observando o movimento das ruas de Olhão. Ele ainda tem o espírito de contador de histórias e adora compartilhar suas aventuras com quem o visita. "A vida é como uma feira," ele diz com um brilho nos olhos. "Você nunca sabe o que vai encontrar, mas sempre há algo para levar para casa."

José é um exemplo brilhante de como cada fase da vida pode ser vivida com entusiasmo e gratidão. Sua trajetória nos inspira a abraçar cada oportunidade e rir das surpresas inesperadas pelo caminho.

Recolha e Adaptação: Albino Monteiro