O Mensageiro do Tempo: Histórias de um Telegrafista Reformado

 

O Mensageiro do Tempo: Histórias de um Telegrafista Reformado

Aos 78 anos, Roberto Silva é um verdadeiro guardião das memórias do Porto. Nascido e criado na zona histórica da cidade, Roberto dedicou grande parte da sua vida aos Correios, onde foi telegrafista — um ofício que hoje parece quase mágico, mas que, em tempos, foi a espinha dorsal da comunicação entre famílias, empresas e até países.

Roberto recorda com carinho os dias em que o som dos telégrafos preenchia a repartição, cada clique traduzido em mensagens preciosas e urgentes. A rotina era rigorosa, mas cheia de histórias — como o reencontro de amantes separados pela guerra, ou a notícia esperada de um nascimento distante. "Era um tempo em que cada palavra enviada tinha peso e emoção", conta ele com brilho nos olhos. O bairro onde trabalhou, a baixa do Porto, era um palco vivo de tradições, comércio e gente simples, mas cheia de vida. Ele conhece cada rua, cada café, cada rosto que passou pela sua janela ao longo dos anos. "Amava aquele burburinho, aquela cidade antiga que nunca dormia. Era o meu mundo e o mundo de muitos," diz Roberto, com um tom entre nostalgia e orgulho.

A antiga estação dos correios onde Roberto trabalhou ainda guarda a aura daquele tempo. O balcão de madeira polida, os telefones de disco e os equipamentos de telegrafia formam hoje uma espécie de museu particular. Roberto lembra com saudade do canto reservado aos clientes, um espaço com bancos de ferro e azulejos que recebiam gente de todas as idades — desde o carteiro apressado até a senhora que vinha buscar uma carta do filho emigrado. "Havia calma naquele lugar, uma pausa na correria da vida," recorda. Com o avanço das novas tecnologias, o ofício mudou radicalmente, e muitos dos equipamentos foram substituídos por computadores e mensagens instantâneas. Mas Roberto nunca perdeu o gosto pela comunicação humana, pelo gesto e pela palavra cuidadosa.

Depois de reformado, Roberto encontrou no seu bairro um novo papel: o de contador de histórias. Passa as tardes no jardim da praça central, onde os bancos acolhem amigos antigos e curiosos que se juntam para ouvir as suas narrativas. Fala do Porto de antigamente, do som dos bondes, das festas tradicionais e das gentes que faziam daquele lugar uma comunidade vibrante. Ali, entre chávenas de café e sorrisos, Roberto revive memórias que ajudam a manter viva a alma da cidade. Com um gesto simples, às vezes oferece um pequeno postal antigo, uma lembrança dos tempos em que o correio era o elo entre corações distantes.

Roberto é a prova viva de que, mesmo quando a tecnologia avança, o que verdadeiramente importa são as ligações humanas — aquelas feitas com tempo, paciência e carinho. E ele, com o coração aberto e uma vida cheia de histórias, continua a ser um elo precioso entre o passado e o presente, um verdadeiro mestre da arte de preservar memórias.

Por: Albino Monteiro