A Última Aula de Olavo: Uma Vida de Palavras e Memórias

 

A Última Aula de Olavo: Uma Vida de Palavras e Memórias

No sossegado lar de idosos em Coimbra, entre corredores iluminados pelo sol da manhã e jardins bem cuidados, reside Olavo Rocha, um professor de português aposentado, agora com 80 anos. Durante décadas, sua voz ecoou nas salas de aula, moldando mentes jovens e espalhando o amor pela literatura. Hoje, já longe dos cadernos e lousas, ele encontra novas formas de compartilhar seu conhecimento — mesmo que a sala de aula tenha mudado.

Olavo sempre acreditou que a língua portuguesa era mais do que um conjunto de regras gramaticais. Para ele, as palavras tinham alma, carregavam histórias e transmitiam emoções. Em sua juventude, dedicou-se ao ensino, incentivando seus alunos a não apenas decorar verbos e conjugações, mas a sentir cada frase como um quadro pintado pela imaginação. Muitos de seus ex-alunos se lembram com carinho das aulas repletas de poesia, crônicas e debates sobre os grandes escritores portugueses.

O tempo passou, e com ele vieram mudanças. O professor que antes preenchia a lousa com explicações agora preenche páginas de cadernos com reflexões sobre sua vida. No lar de idosos, Olavo se tornou um contador de histórias. Sentado no jardim, rodeado por outros moradores, ele revive momentos marcantes de sua carreira, conta sobre seus primeiros anos como professor e até relembra casos engraçados, como o aluno que confundiu Camões com um cantor e outro que perguntou se Fernando Pessoa realmente existia ou se era um personagem inventado.

Mas a maior alegria de Olavo é sua filha, Catarina. Jornalista, ela herdou o amor pelas palavras do pai e frequentemente o visita, trazendo livros novos e cartas de antigos alunos que ainda lembram do impacto que ele teve em suas vidas. Um deles escreveu: "Professor Olavo, suas aulas me ensinaram muito mais do que português. Elas me ensinaram a amar as palavras e a enxergar a beleza escondida em cada frase."

Apesar da saudade da sala de aula, Olavo sabe que sua missão não terminou. Ele acredita que ainda há muito a ensinar, seja em conversas casuais ou em cartas que escreve para os netos. Seu legado está espalhado por cada pessoa que aprendeu com ele, em cada aluno que hoje lê um livro com paixão, em cada texto que ganha vida por meio das palavras.

A vida de Olavo Rocha nos lembra que o conhecimento não envelhece, que as palavras nunca perdem seu significado e que a verdadeira marca de um professor é eterna, mesmo quando a última aula já foi dada.

Por Albino Monteiro