António e o Eco das Estações
António e o Eco das Estações
António Sousa, um viúvo de 75 anos, vive na pacata vila de Castro Daire. Ao lado do seu fiel cão, Tobias, ele descobriu um ritmo de vida tranquilo, onde as estações do ano parecem ecoar os momentos da sua própria jornada.
Primavera: O Recomeço
Quando a primavera chega, António sente que algo dentro dele desperta. As flores rebentam nos jardins, e as manhãs trazem uma brisa suave que lembra o início dos seus dias como professor primário. Durante anos, ensinou crianças a ler e a escrever, sem saber que também plantava pequenas sementes de esperança em cada uma delas.
Agora, aposentado, ele observa as novas gerações brincando no parque da vila e sorri ao ver o entusiasmo no rosto das crianças. "Ainda me lembro de quando os números e as letras eram desafios assustadores para os meus alunos," pensa ele, enquanto Tobias fareja o ar como se buscasse memórias perdidas.
Verão: As Viagens que Nunca Fez
O verão traz consigo o calor e o desejo de aventura. Durante a juventude, António sonhou viajar pelo mundo, explorar outros continentes e sentir na pele culturas distintas. Mas a vida seguiu outro rumo: a família, o trabalho e as responsabilidades ocuparam o seu tempo.
Agora, ele aproveita pequenos passeios. Já visitou Aveiro e os canais que lembram Veneza, sentiu o sol da costa alentejana e provou pratos típicos da Beira Baixa. “Talvez nunca tenha ido longe, mas não deixei de viajar,” murmura, enquanto Tobias abana a cauda, confirmando que cada descoberta é preciosa.
Outono: Reflexões e Memórias
O outono chega com suas cores douradas, e António sente que esta estação é um espelho da sua própria vida. No quintal, ele apanha folhas secas e lembra-se dos momentos ao lado da esposa, Clara, que partiu há uma década. O aroma do chá quente lembra-lhe as conversas tardias e o carinho silencioso que os unia.
Quando a nostalgia aperta, António escreve cartas para Clara, deixando-as num pequeno baú de madeira. "A saudade não é tristeza, mas sim a confirmação de que amei verdadeiramente," reflete, enquanto Tobias se aninha ao seu lado.
Inverno: As Pequenas Alegrias
O inverno traz o frio, mas também a aconchegante rotina da vila. António adora sentar-se no café principal, observando o nevoeiro que cobre as montanhas próximas. Embora os dias sejam mais curtos, ele encontrou uma nova paixão: aprender a tocar guitarra. A música tornou-se a sua ponte para o passado e para o futuro.
“Tocar uma melodia é como reviver memórias sem palavras,” ele diz, enquanto Tobias repousa junto ao fogo. A vida, afinal, nunca deixa de surpreender.
Conclusão
À medida que as estações passam, António compreende que a existência não é feita apenas de grandes eventos, mas de momentos singelos que, juntos, formam uma sinfonia de vida. O saldo da sua história não está nos lugares que visitou ou nas coisas que conquistou, mas sim na simplicidade dos instantes que, como notas musicais, compõem sua própria canção.
Por Vasco Sampaio
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