O Caminho de Luz de Dona Alzira

 


O Caminho de Luz de Dona Alzira


Dona Alzira nasceu em 1947, numa pequena aldeia do interior de Trás-os-Montes, chamada Vale da Serra. Cresceu entre campos de oliveiras, figueiras e vinhas, numa casa de pedra com paredes grossas e um forno a lenha sempre aceso. Era a mais velha de cinco irmãos e, desde cedo, aprendeu a responsabilidade — ajudava na lida da terra, cuidava dos mais novos e ainda encontrava tempo para sonhar com o mundo para lá da serra.


A escola ia só até à quarta classe, mas Dona Alzira tinha sede de aprender. Quando completou 12 anos, o pai disse que precisava dela em casa. Apesar disso, à noite, lia livros emprestados pelo professor da aldeia e escrevia poemas num caderno escondido debaixo do colchão.


Aos 20 anos, casou-se com Manuel, um rapaz de uma aldeia vizinha, honesto e trabalhador. Foram juntos para Lisboa, como tantos outros, em busca de uma vida melhor. Alzira começou a trabalhar como costureira numa pequena oficina e, mais tarde, costurava em casa para senhoras do bairro. Manuel trabalhava nas obras e, juntos, compraram um pequeno apartamento em Benfica.


Tiveram dois filhos — Inês e Rui. Sempre os incentivaram a estudar. Alzira dizia: “Vocês vão onde eu não fui.” E foram. Inês tornou-se médica e Rui engenheiro. Mesmo com pouco, Dona Alzira nunca deixou faltar amor, comida quente e palavras de encorajamento.


Quando o marido faleceu, há 15 anos, foi um golpe duro, mas Dona Alzira não se fechou para a vida. Entrou para uma universidade sénior, aprendeu informática, história da arte e até francês. “Queria saber o que era o Louvre antes de morrer,” dizia a rir. E em 2015, aos 68 anos, viajou pela primeira vez para Paris com uma amiga do curso.


Hoje, com 78 anos, vive sozinha, mas nunca está só. Mantém um pequeno jardim de ervas aromáticas na varanda, escreve cartas à mão para os netos e ainda dá apoio a imigrantes recém-chegados, ajudando com o português. Vai ao mercado, dança nas tardes da junta de freguesia e mantém um grupo de leitura que fundou há seis anos com outras senhoras do bairro.


É respeitada, admirada e, acima de tudo, feliz. Quando lhe perguntam o segredo da sua energia, ela sorri com os olhos brilhantes:

“Nunca deixei de aprender. E nunca deixei de amar.”


Recolha e adaptação: Gabriel Silva