O Dom do Sr. Antero

"O Dom do Sr. Antero" Antero Figueiredo, 75 anos feitos em abril, era daqueles homens que sabiam fazer um pouco de tudo: consertava torneiras, fazia compotas, sabia apanhar cogumelos no monte e ainda tocava harmónica como ninguém. Vivia em Arcos de Valdevez, na mesma casa onde nascera, com vista para o rio Vez e a serra ao fundo. Sempre fora homem do campo. Trabalhador, discreto, bom vizinho. Reformou-se aos 68, depois de décadas como mestre de obras. Tinha mãos grandes e marcadas, mas ainda firmes, e uma mente sempre viva. Gostava de ler o jornal na esplanada da vila, conversar com o padeiro sobre futebol e jogar à sueca com os amigos do café Central. Mas por dentro, Antero tinha um desejo que nunca teve coragem de seguir quando era mais novo: fazer teatro. Sim, teatro. Aquela coisa de palco, falas decoradas, luzes e aplausos. Desde jovem sentia uma vontade estranha de representar. Viu pela primeira vez uma peça em Viana do Castelo, levado por um primo. Nunca esqueceu a se...